O câncer urológico engloba diferentes tipos de tumores que acometem o sistema urinário, como câncer de bexiga, próstata, rim e uretra. Com sintomas que, muitas vezes, podem ser confundidos com outras condições, é importante entender como esses tipos de câncer afetam a função urinária e o que se altera nos exames de urina. Neste artigo, abordaremos as principais dúvidas sobre o câncer urológico, a detecção por exames, e os principais sintomas que indicam alterações no trato urinário.
O que altera no exame de urina quando existe câncer?
O exame de urina é um dos primeiros recursos utilizados para investigar alterações no trato urinário. Quando existe a suspeita de câncer, alguns aspectos específicos no exame podem levantar sinais de alerta, ainda que não sejam definitivos para o diagnóstico da doença. No entanto, essas alterações podem justificar exames complementares mais detalhados.
Hematuria (presença de sangue na urina)
A presença de sangue na urina, chamada de hematuria, é um dos sinais mais comuns associados ao câncer de bexiga e ao câncer renal. Essa condição pode ser:
- Macroscópica: quando o sangue é visível a olho nu, deixando a urina com uma coloração rosada, avermelhada ou marrom. A hematuria macroscópica é um dos primeiros sinais perceptíveis para o paciente, e pode ocorrer de forma intermitente.
- Microscópica: quando o sangue só tem sua detecção por meio de microscópio em laboratório. A hematuria microscópica se detecta em exames de rotina e pode passar despercebida pelo paciente, mas é um indicativo importante.
Embora a presença de sangue na urina possa ter relação com infecções ou outras condições não cancerígenas, ela deve sempre ter sua investigação para descartar possibilidades mais graves.
Células anormais (citologia urinária)
A citologia urinária é um exame que avalia células presentes na urina. Este teste é importante para detectar células atípicas que podem indicar um câncer, especialmente câncer de bexiga e do trato urinário superior. Alterações nas células, como:
- Aumento do tamanho celular e formas irregulares: células cancerígenas geralmente apresentam um crescimento desordenado e formato anômalo, o que é visível em exames de citologia.
- Núcleos aumentados: em células atípicas, o núcleo pode se tornar maior, um dos principais sinais de malignidade.
Esse exame é mais preciso para detectar tumores de alto grau, que apresentam um padrão de crescimento mais agressivo. No entanto, ele pode não ser tão eficaz para tumores de baixo grau. A maior limitação relacionada a citologia urinaria ‘e a sua baixa sensibilidade.
Proteínas e enzimas elevadas
Em alguns casos, o exame de urina pode mostrar níveis elevados de certas proteínas e enzimas, indicando uma possível reação do organismo à presença de um tumor. Alterações na urina, como:
- Proteinúria: a presença de proteínas na urina pode indicar lesões renais que, embora não sejam exclusivas de câncer, podem aparecer em casos de câncer renal.
- Enzimas específicas: algumas enzimas que têm sua liberação por células cancerígenas ou pelo tecido renal lesionado também podem ter sua detecção, indicando a necessidade de uma investigação adicional.
Esses indicadores não são específicos para o câncer, mas sua presença, especialmente em combinação com outros fatores de risco, pode justificar um exame mais aprofundado.
Detecção de marcadores tumorais
Atualmente, testes mais avançados estão sendo desenvolvidos para identificar marcadores tumorais específicos na urina. Estes marcadores ajudam a detectar mutações genéticas e proteínas relacionadas ao câncer, principalmente para o câncer de bexiga. Alguns dos marcadores que podem ser incluídos:
- NMP22: este marcador específico tem liberação pelas células do câncer de bexiga e pode ter sua detecção na urina. Ele tem sido investigado como um exame complementar para o diagnóstico de câncer de bexiga.
- BTA (Bladder Tumor Antigen): este antígeno, quando presente na urina, sugere a presença de células cancerígenas na bexiga. No entanto, ele é menos específico e pode dar falso-positivos em outras condições.
Esses testes de marcadores ainda estão em desenvolvimento e têm seu uso mais em conjunto com outros métodos de diagnóstico.
Infecções urinárias recorrentes
Embora não seja exatamente uma alteração no exame de urina, infecções urinárias recorrentes podem ser um sinal indireto de câncer, especialmente em mulheres e idosos. Exames de urina realizados em casos de infecção urinária frequente podem mostrar:
- Presença de bactérias e leucócitos: em casos de câncer, o tumor pode causar irritação na parede da bexiga ou do trato urinário, facilitando infecções.
- pH alterado: tumores podem causar alterações no ambiente da bexiga, influenciando o pH da urina e contribuindo para infecções de repetição.
Essa condição é mais comum no câncer de bexiga e justifica exames de imagem, como a cistoscopia, para descartar a presença de tumor.
Como identificar o câncer no aparelho urinário?
Identificar o câncer no aparelho urinário requer uma combinação de sintomas, exames laboratoriais e métodos de imagem para um diagnóstico preciso. Embora o câncer urinário possa não apresentar sinais claros nos estágios iniciais, alguns sintomas específicos e métodos de diagnóstico permitem a identificação da doença com mais precisão, aumentando as chances de um tratamento eficaz.
Sintomas iniciais do câncer urinário
Muitos casos de câncer urinário podem ser assintomáticos nos estágios iniciais, mas alguns sinais são comuns:
- Sangue na urina (hematuria): o sintoma mais comum é a presença de sangue na urina, que pode ser visível (macroscópico) ou ter sua detecção apenas em exames laboratoriais (microscópico), como já mencionado. A hematuria é um forte indicador de anormalidades e requer investigação, especialmente em casos persistentes.
- Dor ao urinar (disúria): queimação ou dor ao urinar podem indicar alterações no aparelho urinário, inclusive o crescimento de tumores.
- Urgência e frequência urinária: a necessidade de urinar com mais frequência ou de forma urgente pode ser um indicativo de alterações na bexiga, especialmente em câncer de bexiga.
- Dor nas costas ou nos flancos: dor persistente nas costas, lateral ou região abdominal pode sugerir câncer renal, principalmente se estiver acompanhada de outros sintomas urinários.
Esses sintomas, embora comuns em infecções urinárias e outras condições benignas, devem ter sua investigação para descartar a presença de um câncer no sistema urinário.
Exames de imagem
Os exames de imagem são fundamentais para visualizar o sistema urinário e identificar qualquer crescimento anormal ou tumor. Os principais exames incluem:
- Ultrassonografia abdominal: é um exame de imagem inicial, seguro e de fácil acesso, que permite ao médico avaliar a presença de massas nos rins e na bexiga. Embora a ultrassonografia não substitua exames que têm mais detalhes, ela ajuda a detectar tumores grandes e pode ter seu uso para avaliar possíveis causas de hematuria.
- Tomografia computadorizada (TC): é um dos exames mais precisos para o diagnóstico de câncer renal e bexiga. A TC permite a visualização detalhada dos órgãos e pode identificar tumores pequenos e metastáticos.
- Ressonância magnética (RM): a RM é para obter imagens com detalhes em pacientes que não podem ser expostos à radiação ou contraste da TC. Esse exame é especialmente útil na avaliação de tecidos de partes moles e pode identificar tumores em locais complexos.
- Urografia por tomografia: técnica avançada de tomografia que permite a avaliação com detalhes de todo o trato urinário, da pelve renal até a uretra, e tem indicação para pacientes com hematuria inexplicada.
Cada um desses exames tem sua indicação específica e contribui para formar uma visão completa do estado do aparelho urinário, facilitando a detecção e a localização precisa de possíveis tumores.
Exames invasivos
Em casos de suspeita mais forte de câncer, especialmente no trato inferior, exames invasivos são recomendados para confirmar o diagnóstico:
- Cistoscopia: um exame endoscópico que permite a visualização direta da bexiga e da uretra, a cistoscopia é indicada principalmente para suspeitas de câncer de bexiga. O exame é realizado com um cistoscópio, que permite ao médico observar o revestimento da bexiga em busca de tumores. A cistoscopia também possibilita a coleta de amostras de tecido para biópsia.
- Biópsia: a biópsia é o único exame que confirma o diagnóstico de câncer ao examinar células e tecidos sob um microscópio. Se um tumor for identificado, uma biópsia é necessária para determinar o tipo e o grau do câncer, o que orientará o tratamento adequado.
Esses procedimentos são indicados quando outros exames sugerem uma anormalidade ou quando há sintomas persistentes que indicam a presença de câncer.
Exames de sangue e marcadores tumorais
Embora os exames de sangue não sejam específicos para o diagnóstico de câncer urinário, alguns marcadores podem ajudar na investigação.
- Exames de função renal: avaliam o funcionamento dos rins e podem indicar comprometimentos associados a tumores renais.
- Marcadores tumorais específicos: como o antígeno prostático específico (PSA) para o câncer de próstata, alguns marcadores ajudam a detectar a presença de cânceres urológicos ou a monitorar a progressão da doença em tratamentos. No entanto, a maioria dos cânceres urinários não possui marcadores específicos no sangue.
Esses exames complementam a avaliação geral e ajudam a monitorar a saúde dos órgãos urinários durante o diagnóstico e o tratamento.
Qual o câncer mais comum no trato urinário?
Entre os cânceres do trato urinário, o mais comum é o câncer de bexiga seguido do câncer renal. Nos homens, o câncer de próstata também é extremamente frequente, embora afete principalmente o sistema reprodutor.
- Câncer de bexiga: é o tipo mais frequente, especialmente em fumantes e em pessoas com exposição a produtos químicos.
- Câncer renal: comum em adultos, pode se desenvolver nas células renais e possui várias subcategorias, como o carcinoma de células renais.
Esses tipos de câncer possuem fatores de risco específicos e sintomas variados, mas o diagnóstico precoce é crucial para o tratamento eficaz de ambos.
O que é câncer geniturinário?
O câncer geniturinário é um termo abrangente que se refere aos diversos tipos de câncer que afetam o sistema geniturinário — um conjunto de órgãos e estruturas responsáveis pela produção, armazenamento e eliminação da urina, além das funções reprodutivas. Esses cânceres incluem tumores que se desenvolvem nos rins, bexiga, uretra, próstata e nos testículos, além de afetar o sistema genital.
Principais tipos de câncer geniturinário
O sistema geniturinário é composto por várias partes, cada uma delas podendo ser afetada por tumores específicos. Os tipos mais comuns de cânceres geniturinários incluem:
- Câncer de rim: também chamado de câncer renal, é mais comum em adultos e tem subtipos como o carcinoma de células renais. Esse tipo de câncer pode apresentar poucos sintomas nos estágios iniciais, sendo geralmente identificado por exames de imagem.
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- Câncer de bexiga: um dos cânceres mais frequentes do sistema urinário, o câncer de bexiga geralmente apresenta sinais como sangue na urina (hematuria) e necessidade frequente de urinar.
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- Câncer de próstata: é o câncer mais comum entre os homens (excluindo câncer de pele), afetando a glândula prostática. Habitualmente de crescimento lento, é diagnosticado com frequência em fases iniciais, sobretudo em razão do exame de PSA (antígeno prostático específico).
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- Câncer de testículo: embora seja um tumor raro, o câncer de testículo é mais frequente em homens jovens e tem altos índices de cura quando tratado precocemente. Ele pode se manifestar como nódulos ou dor na região dos testículos.
- Câncer de pênis e uretra: cânceres mais raros, mas que afetam o sistema urinário inferior. O câncer de pênis, por exemplo, está mais relacionado a infecções virais, como o HPV, e a falta de higiene.
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Esses cânceres podem ter características e abordagens terapêuticas diferentes, exigindo tratamentos personalizados conforme o tipo de tumor e o estágio da doença.
Fatores de risco do câncer geniturinário
Diversos fatores de risco podem contribuir para o desenvolvimento do câncer geniturinário. Estes incluem:
- Idade: a maioria dos cânceres geniturinários é mais comum em adultos acima de 50 anos, especialmente câncer de próstata e bexiga.
- Histórico familiar: fatores genéticos podem aumentar o risco, como no câncer de rim, onde o histórico familiar é relevante.
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- Tabagismo: fumar é um dos principais fatores de risco para câncer de bexiga e câncer de rim, uma vez que as substâncias químicas do cigarro podem danificar as células desses órgãos.
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- Infecções virais: infecções pelo HPV (papilomavírus humano) estão associadas ao câncer de pênis.
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- Exposição a substâncias químicas: profissionais expostos a químicos industriais têm risco aumentado de desenvolver câncer de bexiga.
- Condições médicas e inflamações crônicas: pessoas com histórico de cistite crônica (inflamação na bexiga) ou com infecções renais de repetição estão mais suscetíveis a desenvolver cânceres na área.
Entender esses fatores de risco é essencial para a prevenção e a adoção de práticas de detecção precoce.
Tratamentos para câncer geniturinário
O tratamento para câncer geniturinário varia bastante e tem sua personalização conforme o tipo, estágio e localização do câncer. As abordagens incluem:
- Cirurgia: é o tratamento mais comum para remover tumores, especialmente no câncer de bexiga, rim e próstata. Em muitos casos, a cirurgia pode ser curativa se realizada em estágios iniciais.
- Radioterapia: usada para reduzir ou eliminar células cancerígenas, especialmente quando a cirurgia não é viável ou para diminuir o tumor antes de um procedimento cirúrgico.
- Quimioterapia: em casos de cânceres mais avançados ou metastáticos, a quimioterapia pode ter seu uso para impedir a progressão do tumor.
- Terapias alvo: para certos tipos de câncer, como o renal, existem terapias que agem diretamente sobre as células cancerígenas, preservando as células saudáveis ao redor.
- Imunoterapia: uma abordagem inovadora que estimula o sistema imunológico a combater o câncer. Está sendo cada vez mais usada para cânceres como o de bexiga e rim.
O tratamento é feito com base na localização, estágio e resposta do paciente, com a possibilidade de combinar diferentes terapias para melhores resultados.
Conclusão
O câncer urológico pode afetar a função urinária de maneiras variadas e sutis, tornando essencial o acompanhamento regular com especialistas, principalmente para quem está em grupos de risco. Sintomas como sangue na urina, infecções recorrentes e dores ao urinar não devem ser ignorados, pois podem ser sinais iniciais de câncer. Detectar essas condições cedo, por meio de exames específicos e acompanhamento médico, faz a diferença no sucesso do tratamento. Para saber mais, consulte um especialista em urologia e realize exames de rotina. Caso necessite de uma consulta, faça o agendamento pelo meu site.
Dra. Mariane Fontes
Uro-oncologista – Especialista em uro-oncologia – Uro-oncologista Rio de Janeiro (Zona Sul)